Autor: Orlando Marciano, presidente da Coopercica

Aprendi a liderar no campo, acompanhando meu pai, que desbravava terrenos inférteis até formar fazendas produtivas. Liderar o trabalhador que labora na terra, sob o sol, com salário mínimo, filhos a distância e muita dificuldade para manter a família é bem diferente de liderar colaboradores no corporativo ou na área comercial, que trabalham sob o conforto do ar-condicionado, num ambiente limpo e seguro, com água geladinha ao alcance de alguns passos e café quentinho sempre disponível. E também é muito diferente de liderar os profissionais que labutam no chão de fábrica, que embora enfrentem um cenário mais insalubre que o escritório, ainda têm muito mais conforto laboral, se comparado ao trabalhador exposto às intempéries.

Eu conheço os três cenários. Comecei na roça, registrado aos 14 anos numa fazenda. Depois de conhecer todas as tarefas, sangrar as palmas das mãos até a carne viva, aos 15 assumi a liderança dos peões. Antes da maioridade, alcancei uma vaga na empresa que aprendi a amar, a Cica. Durante 23 anos, me dediquei ao chão de fábrica, primeiro como operário e depois como líder. E como presidente, há 28 anos, administro a operação comercial que faz da jundiaiense Coopercica uma das maiores cooperativas de consumo do país.

Com a experiência de quem conhece a terra, o galpão fabril e o escritório, quero deixar aos que estão começando a trilhar uma carreira marcada pela liderança, como foi o meu caso; e também aos que pretendem assumir uma carreira executiva, tal qual aconteceu comigo, três caminhos, três referências para ajudar e orientar sobre o que vem pela frente.

Blinde-se sem melindre

A quem deseja crescer, aí vai a dica: não se apegue ao que é pequeno e transitório, como uma bronca. Eu tive chefes que praticaram assédio moral, mas assim que vi uma oportunidade, exigi respeito e segui construindo a carreira, no lugar de ficar lamentando. Aprenda algo com a situação e mantenha-se sob total blindagem emocional.

Quando chegar o momento da promoção e você assumir uma equipe, posso conceder a seguinte dica: conquiste as pessoas, sem assédio moral ou rispidez. Faça-o com carinho e interesse verdadeiro pelo colaborador. Dessa maneira, você terá a fidelidade natural dos profissionais. E como eu sei disso? Essa não é uma teoria que ofereço para que você faça o teste. É, sempre foi e continuará a ser o meu estilo de liderar. Ou seja, estou oferecendo a você experiência, um ativo que vale ouro em tempos de muita informação teórica da internet e pouca prática de vida.

Por fim, certifique-se de que está lidando bem com os críticos. Até hoje, pessoas e grupos tentam criticar o que fiz e o que faço, mas nunca conseguem êxito porque as realizações são maiores que as especulações. Aí está o segredo: faça muito além das expectativas, construa um legado firme, exija respeito da liderança e blinde-se, em vez de melindrar-se por pouco. Assim, a carreira executiva estará de portas abertas.

Não se corrompa e não corrompa

Eu adoro música caipira raiz. Inclusive, gravei um CD como passatempo. Nos finais de semana, sempre há boa música e bons músicos em nossa casa. E o que isso tem a ver com o mundo dos negócios? Explico: muita gente inescrupulosa há de aparecer pela “longa estrada da vida”, como diriam Milionário e Zé Rico.

Ninguém chega aos mais altos postos corporativos, comerciais, organizacionais ou políticos, livres de contato com gente ruim. Lembre-se que não existe corrupção pequena ou grande. Aceitar um presentinho, aparentemente desinteressado, do fornecedor ou de quem tenha interesse em negociar conosco, é a abertura de uma porta que jamais se fechará. E da mesma maneira, conceder aos colaboradores promessas ou facilidades para o alcance de metas é um formato de suborno e corrompe.

Por exemplo: “Se você cumprir a meta durante os 12 meses deste ano que se inicia, no ano seguinte eu lhe conseguirei um aumento de salário.”

Isso é descabido. Meta é obrigação e premiação é paga sob o formato de comissão, em vez de uma promessa para futuros cargos e salários. Observe, no cenário dos negócios, a seguinte constatação: corruptos e corruptores conseguem, no máximo, dinheiro. Grandes líderes conseguem um legado que dinheiro nenhum é capaz de comprar. Tenho certeza que você fará a escolha certa…

Promova o enfrentamento

Recentemente, entreguei para a sociedade o livro “O que vi, aprendi e recomendo para a vida”. Na obra, bato muito fortemente na tecla do enfrentamento e insisto muito porque vivemos tempos de conformismo político, empresarial e profissional.

Do carrinho de supermercado deixado fora do lugar ao cachorrinho cujo dono o leva para passear e não recolhe seus dejetos. Do colaborador que recebe propina da empresa fornecedora ao líder que usa o seu cargo para impor medo. Do empresário espertinho que não deposita o FGTS ao fiscal que só libera a documentação se a empresa der algum dinheiro.

Tudo isso e muito mais é visto pela maioria com ojeriza. O ponto contraditório é que boa parte dessa maioria nada faz. Vê, finge que nada viu e usa as justificativas mais insensatas. “Não é da minha conta”, “não sou pago para isso”n “ada um sabe de si”.

Indignar-se não basta. Em uma empresa, errado, ilícito e prejuízo são fatores que afetam a todos e o enfrentamento deveria ser dever de todos. Nessas décadas de liderança, sempre alimentei a verdade como pauta do trabalho. Há quem prefira silenciar diante do que é nocivo porque acha que assim “deduraria” quem age de maneira inidônea e eu convido você a refletir que não se trata disso. O caminho não é dedurar uma pessoa, mas criticar a atitude dela, cujos danos podem ser irreparáveis a todos, pois não foram poucas empresas que sofreram e até fecharam as portas, lesadas por ilícitos que muitos sabiam, alguns aproveitavam e ninguém trazia à luz. Se estiver difícil para você pensar em exemplos tangíveis, basta olhar para a Operação Lava Jato e conferir a empresa que mais foi lesada. Com enfrentamento, a Petrobrás não teria sangrado tanto. Ou alguém seria capaz de acreditar que somente os corruptos sabiam? Convenhamos, é difícil crer. E isso me leva até a derradeira pergunta que deve ser respondida por quem pretende fazer carreira na gestão: os “honestos” que viram os ilícitos e nada disseram podem ser assim chamados?

A Coopercica funciona com excelência, mesmo após enfrentar tantos que tentaram fazê-la cair, porque a honestidade, a verdade e o enfrentamento são o adubo que está presente em suas mais profundas raízes. Se você deseja crescer como líder, construir uma carreira executiva que dê orgulho aos seus, aí está o caminho.

E se você tiver alguma dificuldade, precisar de uma dica ou se quiser uma palestra em sua empresa sobre o tema, pode contar comigo. Quando eu tiver um tempo, vou responder ao seu e-mail com atenção e respeito. Eis, portanto, a lição final: responderei em meu tempo livre, pois não seria correto usar o tempo dedicado ao expediente na Coopercica. Entendeu agora? Aí vai o meu contato: orlando.marciano@coopercica.com.br

O post Como construir uma carreira executiva apareceu primeiro em Catho Carreira & Sucesso.

Fonte: https://www.catho.com.br/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *